A única afirmação que todos concordam, ou pelo menos a maioria dos educadores e ambientalistas que conheço, é que a Educação Ambiental (EA) é um processo educacional permanente. A partir daí, vários olhares, acadêmicos ou não, se entrecruzam e/ou divergem quando se parte para a ação prática deste processo. Por isso é tão difícil definir o que vem a ser EA. Existem muitas tentativas de definições, que variam por diversos fatores, principalmente pelos fundamentos filosóficos de cada um: para quem se apóia em fundamentos holísticos é uma definição; para os conservadores e tecnocráticos é outra, e por aí vai. Assim, divergentes concepções fazem com que a EA também seja fragmentada, dividida, antes mesmo de se consolidar como processo educacional em prática permanente, e acentua-se desmembrada no sistema educacional, também fragmentado. Estas divergências podem ter origem nas diferentes correntes dos movimentos ecológicos que vão se sucedendo ao longo da história. Luc Ferry, que éumfilósofo francês, antigo professor de filosofia e político engajado em favor da união para um movimento popular, propõe uma reflexão para além da unanimidade em torno da defesa do ambiente. Segundo ele, os movimentos ecológicos distinguem-se por três características: movimentos reformistas, movimentos intermediários e movimentos revolucionários que se defrontam, cada qual com uma ótica específica. Para os reformistas, parte-se da noção de que cuidando e protegendo o ambiente, o ser humano poderá salvar a sua espécie. O ambiente em si não tem valor algum além de nos servir como um “armazém de mercadorias”, como diz o jornalista Vilmar Berna; e se for destruído, comprometerá o bem-estar do “homem”. Este grupo apresenta um discurso antropocêntrico e “humanista” onde o meio ambiente é apenas a periferia que envolve o Homem - que é o centro de tudo.
Já os que fazem parte do grupo dos intermediários se fundamentam no princípio que não se deve somente militar pelos direitos dos homens, mas também dos animais, seres que são suscetíveis de sentir dor e prazer. A visão antropocêntrica já começa a ser questionada e combatida.
E para o último e terceiro grupo, inclui-se uma preocupação que vai além e reivindica direitos também para plantas e pedras. Esta ecologia, mais radical, não considera o homem como centro do mundo e dá mais valor ao ecossistema, onde a natureza deixa de ser apenas um palco e passa a ter valor estético, moral e jurídico.
Assim, da mesma forma que os movimentos ecológicos distinguem-se por características específicas, também a EA enfrenta discordâncias frente aos conceitos e valores tratados pelas diferentes correntes dos educadores e ambientalistas. Para compreender a EA ou a falta dela dentro do sistema tradicional, há que se discutir e refletir sobre os valores éticos que circundam o processo civilizatório que nos tornou o que somos hoje. Penso que o mais importante, nesta situação, não é encontrar uma definição para a EA, mas unirmos, em forma de rede, estas diferentes visões, pois, no final das contas, todos querem fazer um mundo melhor, e a diversidade da EA deve ser respeitada para que possamos viabilizar práticas que realmente promovam as mudanças que o mundo precisa.
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